Reflexões sobre o confinamento Por Viviane Lopes

Reflexões sobre o confinamento

Por Viviane Lopes


Se temos uma certeza, enquanto sociedade do século XXI é que nunca vivenciamos uma situação como essa. Nem parecida.


Diariamente, estamos levando tapas na cara da realidade e sendo forçados a frear bruscamente nossas vidas e os nossos tantos planos. Como a gente faz planos, né?


Obrigados a mudar drasticamente nossas rotinas ditadas pela pressa e pela urgência, em que tudo “é pra ontem”. Essa mesma correria que muitas vezes tirava nossa pausa para pensar, refletir, respirar, sentir e olhar o outro, agora se cala diante da ameaça invisível. Nos obriga, na marra, a puxar o freio de mão, olhar para fora e para dentro.


As 24 horas do dia, que antes não nos eram suficientes, agora parecem arrastar-se pelo tempo que insiste em nos mostrar que nem sempre temos domínio sobre o que nos cerca. Sobretudo, tem materializado algumas palavras, como empatia, isolamento e medo.


A ansiedade, palavra tão usada no nosso cotidiano, agora adquire uma conotação ainda mais dura e implacável, refletida na preocupação com a nossa saúde e especialmente na dos nossos entes queridos; com a saúde dos mais vulneráveis que não têm os mesmos privilégios que nós; preocupação com a perda de emprego, com as contas que não param de chegar; e a preocupação com o impacto emocional que isso causará em todos, sobretudo nas crianças, que não entendem o porquê de tantas restrições e desse tal confinamento, que até então só conhecíamos pelos reality shows.


Estamos nos adaptando à nossa própria companhia, ao espaço físico limitado, aos conflitos familiares e às inconstâncias emocionais. Uma adaptação que precisa ser assim, responsável, sem  aglomerações, sem compras, sem cinema e demais subterfúgios que ajudam a entreter nossas horas vagas e a conter o tão temido tédio.


Como lidar com todas essas emoções, com a falta de socialização e, ao mesmo tempo, continuar seguindo com as nossas vidas, nossos afazeres e obrigações, que não podem parar? É um desafio enorme, mas somos adaptáveis e a tal palavra empatia, tão em alta, também pode servir para ajudarmos uns aos outros, nossos parceiros, amigos, colegas de trabalho, vizinhos. Para ouvirmos um desabafo, para darmos (ou recebermos) uma palavra de apoio e para entendermos que, embora a situação seja muito delicada e difícil de lidar, estamos todos no mesmo barco.


Dias desses li que aprendemos a fugir do que dói, sem saber que essa dor pode existir há tempos, e só não demos ouvido por causa da pressa, da falta de escuta e do medo de sentir. Agora, nós temos esse tempo e podemos mudar nosso olhar sobre muitas coisas, buscando conforto nas coisas simples da vida como uma boa conversa, um filme, uma comida cheirosa, aquele livro que vivemos adiando a leitura, e a apreciar a natureza, que está aí para ser apreciada, apesar das adversidades.


A vida nos pede para parar, nos pede calma e só nos cabe aceitar até essa maré passar, e agir com extrema responsabilidade, nos isolando e nos afastando dos que amamos. Tudo isso vai passar, mas nós continuaremos os mesmos?